POEMAS-DEDICATÓRIA --- I

            ENTRE ALGUM LUGAR(ODE A WALLY SALOMÃO)

 

 

 

 

Vérvico galopar

Entre o poroso e o hermético:

Sua mente flui, reflui

Pelas alamedas, ribanceiras

Cordilheiras do Clássico,

Do Moderno e pare, assim,

Um Autêntico Contemporâneo

 

 

Fazer Poético

Cosmopolita, Latinoamericano,

Brasileiro, Nordestino, Baiano,

Plenitude do Universo retroagindo-se e se açambarcando!

 

 

Seu verso cavalga

Pela estrada da reflexiva,

Filosófica, sonora,

Jocosa, prosódica,

Culta, dionisíaca,

Difusa, diáfana,

Ferina, aquática, sábia,

Copiosa, prolífica, ígnea,

Reta,

Obliqua,

Acuidosa,

Expedita,

Gostosa,

Dúctil,

Livre,

Liberta,

Libertina,

Geral Geleia,

Gelatina,

Eclética,

Ladina Metalinguagem.

 

 

Seu poetar codifica e decodifica

A Metalinguagem.

Seu poetar

Penetra e ejacula a Metalinguagem.

 

 

 

Seu poetar

É a Metalinguagem

Que vocifera

Contra a lepra qual acomete e devassa a emoção

E contra o vírus

Da hipocrisia, da miséria, da vácua poetização!

 

 

Seu poetar

É a Metalinguagem

Que afaga, fecunda e soca

A janela da intimidade:

Expondo eloquentes aquarelas

Da introspectiva realidade.

 

 

Seu poetar

É a Metalinguagem

Que rompe e carcome

O indestrutível cadeado

Das senzalas da Palavra.

 

 

Seu poetar

É a Metalinguagem

Que descabaça

O vapor barato

 

 

Pois o falo que a aparelha

É verbo nascido

Do ventre do fogo e do aço.

 

 

 

Seu poetar

Alimenta-se

Da molécula

Que fabrica

A Metalinguagem:

 

 

Ele bebe a água da Metalinguagem.

Ele come a carne da Metalinguagem.

Ele assume a pelagem e a identidade da Metalinguagem.

Ele é a própria Metalinguagem, na verdade!

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

                                                     O SELVAGEM LIRISMO

                                             (TRIBUTO A HILDA HILST)  

 

 

Caminhando o caminho do diverso,

Ela nos mostra a lírica contida

No ferino, íntegro e libertino verso.

 

 

E ao galopar

Cômoda e colossalmente

Sobre o lombo do Pégaso da mente,

A mestra da feérica palavra lasciva e corrosiva,

Munida do antídoto contra a hipocrisia,

Transmuda sáfaras e necrópoles da consciência

Em edens monumentais do pensamento

Cuja paixão é navegar no oceano da contínua luminescência,

Mesmo sendo bombardeada pelo inexorável sol da inveja,

Da ira mais intensa!

 

 

Ventania, Rebeldia, Anarquia, Anti-hipocrisia, Amor de carne, Fantasia:

São tantas as alamedas em que ela,

Indomada, desfila;

É  tanta a energia que as suas mágicas palavras irradiam;

É tamanha a técnica que domina;

É tão imensurável a certeza de sua cintilante onipresença ladina e arredia

Que, embora seu corpo repouse

Na cidade da augusta dimensão desconhecida,

A verdadeira, alada,  carnosa, líquida, alcoólica Poesia

Sua pessoa, sempre e com muita alegria,

Imortaliza!

 

 

Vai, Ursa Maior

Vai, Tempestade

Vai, poderosa Melodia

Vai, inesperado e epifânico Graal

Vai, vocabular colossal Estrela ígnea

Vai, POESIA, seja eterna e simplesmente HILDA!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA   

 

 

                                                  POETA MINERAL

                             (ODE A JOÃO CABRAL DE MELO NETO)

 

 

 

 

 

Vicejara da sáfara, da pedra

Um girassol que se esconde

No túmulo do empedernido.

 

 

Odeia o transbordamento da cálida água:

Acha-a frívola;

Prefere a rasteira tapeçaria, o afagar

Da mão do cimento e a metálica alvenaria do parco gesto do engendro.

 

 

Pinta a grandeza da secura:

Exaltando a plasticidade que a molda;

O aquoso, mádido, translúcido e gélido fogo

Que flui na corrente sanguínea

Das estóicas coisas ou pessoas hialinas.

 

 

A poética da observação obsessiva,

Para ele,

É plena da mais sábia epifania:

Ela fica postada

No píncaro maior

Da visão cristalina, acuidosa, concisa, plástica, vítrea!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não,

Ele não é exangue oceania.

Não,

Ele não é apenas a pétrea açucena que rebenta altiva.

Não,

Ele não é tão-só o penedo, o ferino espelho, o Cerrado,

A Caatinga, o Sertão sem lua nem estrelas, a acrimoniosa SINFONIA.

 

 

 

Não mesmo, meus queridos amigos.

Na verdade,

Embora ele, quando vivo, veementemente refutasse,

O líquido poeta degusta sim o lirismo:

O lirismo presente na contemplação sóbria,

Onde os indistintos matizes do invisível se realçam;

O lirismo contido na profundidade que aflora

Da imagem da viril leveza do andaluzo toureiro

Ou da acre imponência da pernambucana e betúmica cabra;

O lirismo que se denota na narrativa da fluência de um rio

Ou que se ressuma na fluidez da serena revolta

Ora dum povo severino, ora duma gente maganês,

Que ama, apesar da dureza da navalha,

Deverasmente a sua lavra.

 

 

Ah, mais do que nunca eu acredito

Que o árido bardo, compositor da ode ao sol albino,

É, de fato,

Um radioso e magnífico

Poeta lírico! 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA