AURORA NO CREPÚSCULO
Supersônico, o vórtice letal está a galope:
Sinto a sua fragrância lancinante
Pairar sobre as redondezas
Do nosso cangote.
Belicosidade e ganância
São seu ultimato,
O mais dantesco aviso prévio:
A senha para convergirmos
Concomitantemente ao mesmo cemitério raso.
Desejo que saibamos
Da universalidade do sol:
Sua majestade brilha para todos,
Não se restringe tão-só
A alguns poucos rouxinóis.
Ah, mas a cegueira
Nos vegetaliza a mente:
Os pensamentos, como
Prole da livre fluência,
Entram em estado de animação suspensa,
Tornando-se permeáveis
Á ruína de tudo o que seja sinfonia
Da autônoma consciência.
Todavia a esperança persiste:
Embora viva mutilada,
Ela sonha que um dia
Tocará o arco-íris,
Transformando-o
Na sua mais cara
E egrégia harpa.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
PAISAGEM EXANGUE Tudo é breu: O cotidiano Transmuda-se na chuva ácida Que pulveriza por completo Sonhos forjados por aço, diamantes e ferro. Tudo é bruma que cega: A esperança fica estéril Ao perder a sua centelha eterna Para o alucinógeno e deletério Oxigênio da guerra. O caminho São zilhões de labirintos prenhes de maledicência: Neles, o imensurável deserto Nos espreita: sedento por nossa alma, Verve e consciência. Queria ser um parlapatão ou um espantalho Para que me mantivesse indiferente ao teatro. No entanto a redoma de mim se despoja, Deixando a minha retina ser ferida Pela tétrica realidade belicosa. JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA O PESCADOR DA LUZ YELOW Ando chorando. Fico solar. Caio do prédio. Recebo uma injeção letal de tédio. Dou braçadas latas Dentro das turmalinas águas do mar! Solfejo elegias. Danço Forró na Paraíba. Sou mausoléu de atômicas e sentimentais ogivas! O Oceano Betumoso atiça a cobiça e semeia chacinas. Pães tornam muda a intelectual larica. Estiagens da bonança reverberam a merencoria. Peçonhas de gravata confinam a Honra e a vergonha no atol Da existência vegetativa. O Povo caça agônico a poética Alegria Nas profundezas da dura rotina da vida! JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA