POEMAS REFLEXIVOS -- II

             AURORA NO CREPÚSCULO

 

 

 

 

Supersônico, o vórtice letal está a galope:

Sinto a sua fragrância lancinante

Pairar sobre as redondezas

Do nosso cangote.

 

 

Belicosidade e ganância

São seu ultimato,

O mais dantesco aviso prévio:

A senha para convergirmos

Concomitantemente ao mesmo cemitério raso.

 

 

Desejo que saibamos

Da universalidade do sol:

Sua majestade brilha para todos,

Não se restringe tão-só

A alguns poucos rouxinóis.

 

 

Ah, mas a cegueira

Nos vegetaliza a mente:

Os pensamentos, como

Prole da livre fluência,

Entram em estado de animação suspensa,

Tornando-se permeáveis

Á ruína de tudo o que seja sinfonia

Da autônoma consciência.

 

 

 

Todavia a esperança persiste:

Embora viva mutilada,

Ela sonha que um dia

Tocará o arco-íris,

Transformando-o

Na sua mais cara

E egrégia harpa.

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

                              PAISAGEM EXANGUE

 

 

 

Tudo é breu:

O cotidiano

Transmuda-se na chuva ácida

Que pulveriza por completo

Sonhos forjados por aço, diamantes e ferro.

 

 

Tudo é bruma que cega:

A esperança fica estéril

Ao perder a sua centelha eterna

Para o alucinógeno e deletério

Oxigênio da guerra.

 

 

O caminho

São zilhões de labirintos prenhes de maledicência:

Neles, o imensurável deserto

Nos espreita: sedento por nossa alma,

Verve e consciência.

 

 

Queria ser um parlapatão ou um espantalho

Para que me mantivesse indiferente ao teatro.

No entanto a redoma de mim se despoja,

Deixando a minha retina ser ferida

Pela tétrica realidade belicosa.

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

                             O PESCADOR DA LUZ YELOW

 

 

 

 

Ando chorando.

 

Fico solar.

 

Caio do prédio.

 

Recebo uma injeção letal de tédio.

 

Dou braçadas latas

Dentro das turmalinas águas do mar!

 

 

 

Solfejo elegias.

 

Danço Forró na Paraíba.

 

Sou mausoléu de atômicas e sentimentais ogivas!

 

 

 

O Oceano Betumoso atiça a cobiça e semeia chacinas.

 

Pães tornam muda a intelectual larica.

 

Estiagens da bonança reverberam a merencoria.

 

Peçonhas de gravata confinam a Honra e a vergonha no atol

Da existência vegetativa.

 

O Povo caça agônico a poética Alegria

Nas profundezas da dura rotina da vida!

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA